segunda-feira, 1 de agosto de 2022

1- Curtindo o 20

Por Leda Chaves

Capítulo 1


Eu não tinha vindo ao mundo para me encaixar em nada. Eu era e sempre serei livre. Meu espírito sempre teve ânsias de voar, de conhecer. Todas as tentativas que fiz para me encaixar em expectativas de outras pessoas só me trouxeram sofrimento, decepção, frustração. Nunca me proporcionaram o amor que eu buscava. Nada nunca era suficiente para eu ser aceita e amada. Então, depois de anos, acabei compreendendo que eu devia ser a primeira a me aceitar e
amar, entendendo que cada um é único nas contribuições que tem a oferecer ao mundo. Compreendi também, que nasci artista, mesmo não sabendo disso, e pude entender muitos dos perrengues que passei durante a vida por estar tentando trilhar um caminho que não era para mim. Encontrei na versão de Monteiro Lobato, para a história da Cigarra e a Formiga, uma quebra de paradigma do que os artistas representam para a sociedade e de quão importante é a sua contribuição. Fiquei muito feliz em descobrir que eu penso como uma pessoa que alcançou reconhecimento e respeito na tal sociedade que ainda tende a desconsiderar a diversidade da Criação. Aqui, comecei a compreender o que significava o círculo de pessoas que aquele amigo virtual tinha, um dia, sugerido para eu procurar construir.

Eu me senti liberta quando me separei do meu primeiro marido, encerrando um casamento que era, para mim, sinônimo de sofrimento. Era uma vida sem sentido, que eu tinha decidido deixar para trás. Não queria passar o resto de minha vida ao lado de uma pessoa só por convenção. Numa noite de réveillon, enquanto olhava todos os meus amigos e conhecidos dançando abraçados com seus companheiros, ao mesmo tempo que eu estava sentada ali, ao lado de uma pessoa que parecia me ignorar por completo, eu me perguntei: “Meu Deus, o que é que eu estou fazendo com a minha vida?” A contagem regressiva daquele ano novo foi, também, a contagem regressiva do fim daquele relacionamento. Paradoxalmente, enquanto o ano novo nascia, aquela etapa de minha vida era encerrada! Dentro de mim as coisas tinham ficado tão claras que eu poderia ter iluminado o caminho para a casa onde estava hospedada, enquanto andasse no meio da madrugada, mas, por motivos de segurança, esperei até que as companhias decidissem ir embora também.

Tomada a decisão, o Universo abriu muitas portas para mim e, por mais que as pessoas não entendessem nada, eu consegui tornar realidade, aquilo que eu, havia muito, vinha considerando como uma opção nas escolhas que eu teria que fazer. O que eu ia ter que enfrentar num futuro bem próximo, não podia imaginar. Porém, estava mesmo decidida. Comecei a procurar os conhecidos para conseguir um emprego e ouvi coisas como: “Ah, eu não concordo com a sua separação”, “Ah, que pena! Um casamento de 12 anos acabar assim!” ou “Se eu fosse você, ao invés de me separar, arranjaria um amante”. Nesse último comentário havia uma dica que eu só entenderia muitos anos depois. Parece que essa pessoa sabia de coisas sobre o meu primeiro marido que eu ainda ignorava por completo. A impressão que eu tinha é que as pessoas mostravam-se muito preocupadas com a instituição casamento e pouco ou quase nada com os seres humanos envolvidos. Só uma pessoa me fez uma pergunta que me pareceu muito humana que foi a seguinte: “Mas o que foi que aconteceu para esse casamento acabar assim?” Bem, às tentativas de repressão eu resisti bravamente. Meu segundo marido apareceu no meio da história e ficou parecendo que era por causa dele que eu estava me separando. Mas não era. Aquela não tinha sido uma decisão leviana.

Naquela época, antes do divórcio, havia uma etapa preliminar que se chamava separação judicial, que tinha por objetivo dar aos envolvidos um tempo para decidir se queriam mesmo se divorciar ou não. Assim, o casal ficava livre, mas teria que esperar um ano caso quisesse se casar de novo. Depois da separação, eu acabei conseguindo um trabalho temporário. Mudei-me com o meu filho para a casa de uma irmã solteira. Porém, não conseguimos nos adaptar e, então, fomos morar com os meus pais.

Eu consegui um emprego temporário, onde trabalhei até a viagem que fiz para visitar o meu segundo companheiro, em março de 2001. Durante essa viagem, tive a oportunidade de visitar um museu. Anos antes, enquanto cursava arquitetura, eu tinha visto a fotografia de uma parede de mármore que existia nesse museu e tinha sentido algo mover-se dentro de mim, assim como quando conseguimos encaixar uma peça de um quebra-cabeças. Enquanto visitava o museu, recordei-me da fotografia quando vi a tal parede. Parecia que aquilo tudo era parte de um plano divino.


Foto obtida da Revista Projeto
de abril de 1998

Foto tirada em abril de 2001

No meio do ano de 2001, mudei-me para a cidade de Natal, para viver com o segundo companheiro, já que as nossas tentativas de nos estabelecermos em Belo Horizonte tinham sido frustradas. Ao final do ano, completado o ciclo de um ano de separação judicial, eu pedi o divórcio. Porém, o meu ex-marido não aceitou. Então, eu não insisti e continuei morando com o segundo companheiro sem esquentar mais a cabeça com aquele assunto. Eu sabia que, quando chegasse a hora, tudo ia se resolver. Aquele segundo relacionamento foi uma experiência muito enriquecedora e eu amadureci muito. Meus horizontes alargaram-se. Foi, também, nos braços do meu segundo companheiro, que eu me descobri mulher. Era uma delícia ter sensações que eu nem suspeitava que existiam. Eu vivi, ao lado daquele homem, com muita alegria e disposição. Vivemos momentos muito felizes e, também, muito difíceis. Tivemos que enfrentar dificuldades financeiras e, foi quando eu pude saber quem eram, de verdade, meus amigos. Depois de nove anos juntos, o meu companheiro faleceu. A viuvez partiu o meu coração. Daquele sofrimento, nasceu um poema, que você poderá ler clicando no link: https://atelieledachaves.blogspot.com/2012/09/solidao.html.

Durante o curto espaço de tempo em que o meu companheiro esteve doente, eu enfrentei muitas adversidades. Enfrentei até mesmo um acidente de carro, durante uma tempestade. Foi depois desse acidente que a Margarida tornou-se a personagem que viajava no 20.

2 comentários:

Todas as publicações deste blog pertencem à Leda Chaves Erdem.

Neste blog, todos os comentários serão moderados.