quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A chuva de ontem

Por Leda Chaves

Ontem, quando saí para ir ao pilates, chovia e ventava. Chovia uma chuva grossa, daquelas em que as enxurradas correm nas sarjetas como correm os rios caudalosos, sobre pedras. Ali dava pra ver a importância de manter as sarjetas livres de obstáculos como pedaços de concreto e tijolos advindos de reformas, lixo de toda espécie sem falar em interrupções criadas por rampas de acesso a garagens. Eu moro num morro de ventos uivantes e a velocidade que as enxurradas adquirem aqui é bem alta. Se o caminho destinado a elas está obstruído, acabam por invadir as vias e as calçadas. Foi isso que eu vi: pedaços de concreto, lixo, rampas de garagens sem tubos de drenagem. Nesses pontos, a água era obrigada a fugir de seu curso planejado.

Eu vi também, a meia altura, no muro da entrada da garagem de um edifício, uma drenagem pluvial com saída retangular de onde a água da chuva fluía como uma cachoeira, igual a essas de piscinas. A água fustigava a calçada e depois escorria para a sarjeta, não dando outra opção ao caminhante senão enxarcar o pé. Mesmo passando nas pontas dos pés, a velocidade da água encarregava-se de fazê-la alcançar o interior dos tênis. Por causa da água que fugia pelas tangentes dos movimentos circulares das rodas dos carros que passavam em alta velocidade, não pude andar no asfalto para contornar a tal cachoeira. O resultado é que enxarquei os dois pés. O vento também se encarregava de levar os pingos da chuva para as minhas pernas e braços.

Continuei a minha jornada solitária e cheguei ao pilates. Quando tirei o tênis vi que as meias estavam mais molhadas do que eu pensava. Quando eu pisava no tatami, deixava a marca úmida dos meus pés. A professora reclamou e disse que eu poderia tirar as meias, se quisesse. Eu me recusei porque ia sentir frio e sujar os meus pés. Fiquei com as meias úmidas e elas foram secando enquanto eu me esticava e exercitava os meus músculos.

Quando a aula de pilates terminou, as meias já não estavam tão molhadas e tinha parado de chover. Calcei meu tênis molhado e fechei a minha sombrinha que pus no bolso externo da mochila. Passei na padaria ao lado e comprei pão francês fresquinho. Voltei para a casa pelo mesmo caminho, só que agora, em vez de descer, eu subia os três morros. Enquanto caminhava, pude apreciar as árvores. Parecia que elas estavam cantando e dançando. Pareciam também mais verdes, limpas, frescas. Comecei a imaginar a alegria que deve ser para elas, tomar um banho daqueles, principalmente porque vivem numa metrópole onde a poluição do ar é alta. A poeira preta que flutua aqui tinha sido lavada e bem lavada. Do frescor eu percebia um alívio e um relaxamento. Lembrei da sensação de tomar um bom banho ao final de um dia quente.

Bairro Buritis, Belo Horizonte
Depois da chuva - Bairro Buritis
Belo Horizonte
Flor
Flor - Bairro Buritis
Belo Horizonte

Segui subindo os morros, um a um, olhando para as árvores que adornavam o caminho. Elas estavam felizes e eu também. Agora, o que me inundava eram sensações boas demais. Era como se a chuva tivesse nos preparado para uma nova etapa.

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