terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A alegria, a planta pioneira e eu

Por Leda Chaves

Quando eu voltei para Belo Horizonte, encontrei meu apartamento em frangalhos. Tinha sido abandonado pelo inquilino inadimplente que tinha fugido para não responder à justiça. Quando cheguei, o apartamento tinha passado por uma limpeza pesada, mas,

mesmo assim, ainda necessitava de muito cuidado. Algumas mobílias e objetos de decoração tinham sumido. Eu fui anotando numa lista as coisas das quais eu dava pela falta. Aos poucos, fui buscando as caixas do porão e pondo tudo no lugar e fui limpando o que podia.

Um dia, trouxeram um vaso de jardineira e eu pus na varanda. Sempre gostei de cultivar plantas de todo tipo. Comecei a cuidar dela, mas estava infestada de formigas. Quase morreu. Quando as formigas se mudaram, a planta já estava definhando. As raízes estavam murchas. Porém, havia sobrado uma pequena parte sadia que eu pude replantar no mesmo vaso. E ela sobreviveu, brotou e começou a crescer.

Foi então, que, ao lado da jardineira, brotou uma plantinha, um mato. Era forte, cresceu rapidamente e começou a suplantar a jardineira. Floriu. As flores eram bem miúdas, brancas e nasciam na interseção dos galhos. Em cada interseção, uma flor delicada, de pétalas abundantes e finas e miolo amarelo. Eu me admirava da quantidade de detalhes numa flor tão pequenina. Então, eu a mudei para um outro vaso. A jardineira agradeceu.
 
Planta pioneira
Planta pioneira no vaso

Um dia, quando o meu filho veio me visitar, disse-me que aquele mato era uma planta pioneira. Para quem não sabe, segundo a wikipedia, plantas pioneiras são descritas como espécies que sobrevivem devido a alta capacidade reprodutiva. Elas morrem e se decompõem, substituindo o solo no sentido de aumentar o teor de húmus. Isto leva a um aumento da capacidade do solo de manter água e nutrientes minerais. Com isso, as plantas pioneiras criam uma suave microclima. Assim cria-se a base para uma migração de plantas que sejam eficientes na competição por luz, nutrientes e água. No vaso novo, a planta pioneira cresceu e se espalhou como uma planta pendente. Os insetos como abelhas, marimbondos, borboletas vieram visitá-la. Apareceu até um beija-flor. Aquilo me deu muita alegria. Essa abundância tropical era algo de que eu sentia muita falta.

Quando a minha mãe veio me visitar, admirou-se da beleza da planta posta sobre um banco na varanda. Disse que ia plantar lá na fazenda para enfeitar a varanda de lá. Disse também, que ela se reproduz com muita facilidade e que nasce em todo lugar.

Planta pioneira no vaso
Planta pioneira na varanda

Sempre gostei de fotografar a natureza e não foi diferente dessa vez. Tirei fotos da planta e de suas flores. Quando a gente se aproxima para fotografar, a gente vê melhor os detalhes e pode apreciar mais.

Flor de planta pioneira
Flor da planta pioneira

Outros matos nasceram no vaso da sálvia, do kalanchoe e eu também os mudei para outros vasos para ver como vão se desenvolver. A floresta é assim, diversa. Plantas diferentes vivem lado a lado, compartilhando a terra, o sol e alegria de viver. A minha varanda não parece mais tão árida e vazia. Existe a alegria e o aconchego que as plantas oferecem mesmo sendo um simples mato.

Planta pioneira, plantas na varanda
Comunidade de plantas na varanda

Todo dia eu vou lá visitá-las e ver se estão precisando de água. Coloco adubo uma vez por mês. Eu não sei o nome de todas elas, mas isto não tem importância. O que importa é que eu soube aproveitar a alegria que o Universo me ofereceu através daquela planta. Naquela flor tão pequenina, eu vi o Amor do Criador e a Sua generosidade, vi a abundância. E senti-me grata. Através daquela planta, eu ouvi o Universo me dizer: "— Seja bem-vinda!"

Às vezes, a gente deseja algo de uma forma e a concretização desse desejo acontece de uma maneira diferente do que a gente sonhou, mas acontece. A capacidade de reconhecer e aceitar nos torna mais felizes, mais gratos, mais alegres. 

3 comentários:

  1. Que bonito Leda! Realmente, tem muitas plantas que por não conhecermos achamos que não tem valor - até nisso exercemos nosso preconceito e perdemos a oportunidade de apreciar as várias formas de beleza, da mais singela à mais exuberante. No quintal de minha antiga casa deu pra nascer uma plantinha no meio da grama e tinha umas flores parecidas com essas, mas quando tocadas exalavam um perfume no ar muito gostoso. Elas cresciam muito e acabavam suplantado a grama. Quando a grama era cortada, ela também era contada junto, mas subia um aroma delicioso. Na sequência
    gramado se enchia de rolinhas e viuvinhas que vinham se alimentar, era uma cena muito agradável de observar. A Natureza é um bálsamo pra nossa alma.

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  2. Muito bom Leda, observar a natureza nos torna mais sensível.

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